10 junho 2008

...pedra...

Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.

A voz cristalizada
o segredo da rocha rumo ao pó.
E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.

A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.

O poeta quer escrever
a voz na pedra.
Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.

Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.

Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.

Mia Couto

2 comentários:

GZ disse...

o brisa que sopra de africa traz-nos belas poesias escritas no portugues de camões...

um saber e um sabor incomparável...


beijos
GZ

Porcelain disse...

A pedra fala dos segredos que lhe confiaram, uns a seguir aos outros século após século, a pedra que se transforma em pó, em areia, em planta e em animal, mas que nunca deixa de ser pedra pois nada neste mundo muda realmente... a pedra que guarda em si aquilo que por ela passou sem conseguir fazer-se ouvir a não ser pelo coração dos poetas... que ouvem a voz cristalizada e os segredos da rocha rumo ao pó e ao resto...

Ilha no meio de ilhas que falam a sua linguagem apenas audível para alguns...

Escrever a voz na pedra que interessa se somos imortais de qualquer forma... mais vale que levantemos voo na palavra e viajemos a terras distantes...

Da pedra, nasceu a figueira... e da figueira masceu a pedra, pois tudo é cíclico...

Tive saudades de parar por aqui... nem sei o que aconteceu pelo caminho, acho que me perdi de certas coisas...

Beijos linda