04 maio 2008

O Sol Do Avesso




O seu canto despe o horizonte;

e a deusa inicial revela os seios matinais que nenhum olhar ousou,

e cujos bicos se humedecem do estranho leite das palavras esquecidas.

Digo: o amor, a vida, a morte repetida nos teus braços de ouro e sal;

e uma nuvem de vento e de sombras atravessa o céu da estrofe.

Não deixes que a sua imagem inquiete o poema;

empurra-o para o sol,

para que a excessiva luz o queime,

no incêndio que me impede de ver os primeiros sinais da primavera.


Nuno Júdice in «Rimas e Contas», 2000

1 comentário:

Serenidade disse...

Deixo um reflexo sereno neste cantinho fantástico que desconhecia.

Beijinhos e sorrisos doirados e serenos